2007/02/07

 
AINDA O REFERENDO...

O PS nunca deveria ter promovido o referendo, já que, na altura, tinha como
líder, António Guterres, um católico avesso à despenalização do aborto.
Há casos em que o Estado não deve legislar em função do resultado de uma consulta
popular. O Estado cria as leis, regula-as e o cidadão aceita-as ou não, conforme a sua
consciência, sujeitando-se às consequências dos seus actos.

Num país de maioria católica, onde a Igreja tem poder para influenciar milhares
de pessoas, cidadãos de vilas e aldeias que reunem --como cordeiros-- aos domingos,
feriados e dias santos no adro e na sacristia das igrejas, não existem condições para
promover uma campanha de esclarecimento sobre a IVG.
A Igreja, que durante a Inquisição cometeu as maiores barbaridades contra a vida
humana, prega agora, nos seus altares, a "defesa da vida", desde o espermatozóide
até ao embrião, ameaçando todos os que votarem pelo SIM, de não terem um enterro
com missa rezada... (Alguns até gostariam de controlar a "descarga" do sémen... E eu
gostaria de saber, o que pensam eles sobre a "descarga" feita pelos gays e lésbicas).

A Igreja, e boa parte dos católicos, fala na "defesa da vida", mas alguns deles
não sabem o que isso representa, nem quando "começa" ou quando "termina" a vida.
Esquecem que a vida, tanto pode acontecer de forma espontânea, como após longo
período de congelação. Refiro-me à criação "in vitro", proveniente de bancos de
esperma, onde a "vida" foi congelada por dezenas e dezenas de anos. E que podemos
nós pensar sobre a clonagem dos seres?... E, que poderemos nós dizer, daqui por
10 ou 20 anos, da criação de células estaminais, dos clones, da supressão de orgãos
com defeito congénito, substituidos depois por orgãos armazenados em laboratório?
Como se vê, o discurso sobre a "vida" não tem fim. Não leva a lado nenhum,
serve apenas para julgar os outros, e para "impôr" ideias trazidas do passado.

O referendo à IVG, mesmo em reprise, continua a causar um alarido infernal,
que percorre o país, sem que daí resulte a "verdade", porque as forças retrógradas,
militantes e dogmáticas, continuam a NÃO entender o essencial, e as forças do lado
oposto, depois de cantarem vitória, começam agora a perceber que, em questões de
Direito, nunca se deve vir para a rua pedir a sentença de cada um... Nenhuma lei
ou simples norma pode ser feita, baseada numa miríade de juizos de valor.
O Estado regula, regulamenta, faz a Lei, e o cidadão -- neste caso -- ou acata esta,
ou ignora-a. Só a hipocrisia farisaica de alguns os leva a pensar de outra maneira.

Nestes dias, toda a genta bota discurso, defende o seu ponto de vista, contrapõe,
ataca, sobe o tom de voz, irrita-se e irrita os outros... Uma discussão sem fim,
que só tem paralelo com as discussões sobre futebol. Fala-se muito e sobre nada,
nunca se chega à verdade, menos ainda ao consenso, sem benefício para o país
e a vida de cada um... O que se ganha em alarido, perde-se em obra e eficiência.
No dia 11, pela segunda vez, irei votar no SIM... E ponto final a este referendo.





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