2007/01/12

 
LER JORNAIS...

"Se leu no Expressso, é verdade" -- creio que era este o lema do semanário da
Impresa, antes do arquitecto Saraiva moldar o jornal aos seus caprichos editoriais.
Mas não é do Expresso que quero falar. É sobre o DN, ao qual -- pelo menos agora
-- nunca se poderia aplicar o lema do Expresso. Nota-se falta de rigôr na escrita do
jornal controlado pela Controlinveste. Tem uma redacção de gente jovem, mas não
é só por isso que tem falhas na escrita. Hoje os textos jornalísticos seguem directos
para a máquina, sem passarem pela "revisão". Daí resulta uma série de calinadas,
não a nível gramatical, pois existem os "correctores de texto", mas da natureza dos
factos relatados. Repare-se em dois erros crassos, da edição de hoje do DN:
A jovem Suzete Francisco foi destacada para acompanhar a viagem presidencial à
India. Ninguem é obrigado a saber tudo (para isso temos os computadores), mas
nestas deslocações, o jornalista deve inteirar-se dos problemas que vai encontrar.

Cometa McNaught surge nos ceus de Ancorage, capital do Alaska.

"Ao longo do dia, Cavaco manteve ainda encontros como o primeiro-ministro,
Manmohan Singh e com líderes da oposição, como Sonia Ghandi", escreve Susete
Francisco. Ora Sonia Gandhi não é líder da oposição, mas sim presidente do Partido
do Congresso, que governa a India... Sonia Gandhi ganhou as eleições de 2004, só
não aceitou ser primeiro-ministro, devido à sua origem italiana. Por sua vontade,
o cargo de primeiro ministro foi entregue a Manmohan Singh... Foi casada com
Rajiv Gandhi, filho da ex-primeira-ministra, Indira Gandhi, que, por sinal, foram
ambos assassinados por extremistas hindus. Este erro factual é imperdoável, já que
se trata de informar sobre a realidade presente. Ainda no DN de hoje, enquanto a
jornalista Suzete Francisco troca Gandhi por Ghandi, um outro jornalista, numa
peça sobre o discurso de Bush, escreve Jeórgia em vez Geórgia, estado federado
dos EUA... Gostava de saber como é que o jornalista escreveria o nome do país
do Caucaso, cujo presidente se chama Mikhail Saakashvili...

Um Comandante, não chora!... George Bush chora a morte de um soldado
americano, mas parece que se esqueceu de chorar pelos outros 3 mil...


Compreendo que, hoje em dia, é dificil fazer um jornal sem erros, sobretudo
no que toca a factos de países distantes. Outrora havia os "jornalistas de política
internacional", hoje só os grandes jornais, com tiragens a nivel global, se dão ao
luxo de manter jornalistas especializados em áreas específicas. Mas, apesar dos
"correctores de texto" serem hoje uma ferramenta útil na actividade editorial,
nem sempre é utilizada por quem escreve. E acabamos por ver e ler nos jornais
erros crassos em português. Eu tambem os cometo, já que sou míope e tenho
astigmatismo, e, por vezes, acabo por corrigir esses erros no dia seguinte... Mais
vale tarde do que nunca. E os leitores têm sido condescendentes para comigo.

Cartoon de Steve Bell, no Guardian...





<< Página inicial

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Subscrever Mensagens [Atom]