2006/05/29

 
Procurei notícias sobre Timor em diversos canais de rádio, mas todos eles, desde
a RDP, à Antena 1 e TSF, estão acabrunhados com o resultado dos Sub-21; debitam
futebol por todos os cantos. Gostava de conhecer o prometido discurso de Xanana,
aprazado para hoje (ontem em Timor), mas não encontro eco dele. Resta a consulta
dos jornais australianos, onde a informação sobre Timor é diversa e oportuna. Pelo
que vejo, Xanana ficou calado... Pobre país aquele, que parece não ter governantes.
Nem Forças Armadas, e tão pouco forças policiais. Em quinze dias de tumultos, o
povo timorense ficou à mercê dos vândalos, saqueadores, incendiários, criminosos.
Ninguem tomou medidas para travar o cáos. O chefe de Estado não decretou um
recolher obrigatório ou o estado de sítio, e o primeiro-ministro não ordenou à polícia
de segurança para manter a ordem. Não o fizeram, porque não têm autoridade nem
força para o fazer. Xanana não tem poder sobre as tropas, e Alkatiri tem os polícias
desarmados. Resta saber qual é o papel do Matan Ruak, o comandante das Falintil.

Ontem, era assim... As tropas passeavam-se pelos bairros de Deli.

Quem está de fora pergunta: como foi possivel chegar a este ponto, a um beco
sem saída? Ainda não há resposta para esta pergunta, mas já se apontam algumas
"falhas" na acção dos governantes: (i) em 2005 o governo entra em conflito com a
Igreja católica, ao tornar não vinculativo, no ensino público, a disciplina de religião
e moral; (ii) ao dispensar mais de 600 militares, um terço do total das FA, sem que
fosse assegurada a situação económica das suas familias, fez com que os militares
dispensados se revoltassem; (iii) no Congresso da Fretilin, onde Alkatiri foi reeleito
por votação com o braço no ar, levou a que alguns dos congressistas votassem por
medo e não por convicção. Estes tres casos contribuiram para a desagregação do
apoio ao governo de Mario Alkatiri, que deixou o campo livre à Igreja, passando
esta a referir-se ao "primeiro-ministro muçulmano"... Na dispensa dos militares,
alguns com projecção fora de Timor, foi cometido um erro de avaliação do inimigo.
Com a votação por "braço no ar", Alkatiri, que é um democrata, deu de bandeja,
aos seus inimigos, o mote para a atoarda: "Alkatiri é um estalinista", dizem agora
os seus aversários. Os neófitos estão sempre a aprender. É bom que se retratem.

Hoje, já foi assim... Desarmar, deter e identificar os desordeiros...

Entretanto, o cáos em Timor prossegue, como vimos nas imagens televisivas
de ontem. Mesmo com os militares australianos no terreno. Foi assim até ontem.
Hoje já foi diferente. Segundo informação de The Australian, o brigadeiro Mick
Slater, que comanda as forças australianas, conseguiu um acordo, ontem, com os
responsáveis pelo poder em Timor, para que os militares australianos procedam
à detenção, desarmamento e recolha dos desordeiros. Já foram presas 130 pessoas,
entre elas militares revoltosos, polícias e civis. Parece que, finalmente, as coisas
começam a entrar nos eixos em Dili. Depois do estabelecimento da ordem, terá
que haver um frente a frente entre Alkatiri, Xanana, Matan Ruak e outros que
até agora mostraram ser incapazes de impor a ordem e proteger o seu povo.
Xanana Gusmão sai muito penalizado por este impasse, pela inércia demonstrada
durante estes dias. Como refere o Herald de Sidney, "Gusmão tem carisma, mas
não terá força para curar as feridas abertas no seu povo", tanto mais que tambem
ele é um homem doente. A solução para unir os timorenses e curar as suas feridas
pode estar em José Ramos Horta, diplomata, negociador nato, respeitado e tido
como a pessoa mais capaz para ultrapassar as divergênciais com os revoltosos.

Se o ramo da árvore quebrar... o berço vai cair, e a criança pode morrer.





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