2006/02/07

 
Nada é absoluto, apenas a morte. Mas no Ocidente, quando acontece algo como
a destruição das embaixadas, levada a cabo pelos fanáticos do Islão, logo aparecem
os teólogos e os pensadores liberais, a defender o que não é defensável. Provocam
cá dentro, e quando isso não os satisfaz, provocam quem está distante, para terem
a sensação de que são os únicos, os iluminados, os eleitos. Mas fazem-no usando os
símbolos dos "outros", que nada nos dizem a nós, mas dizem muito para os outros.
Aqueles que proclamam a superioridade, os que defendem a "liberdade absoluta",
já esqueceram que tudo na vida tem limites... até à linha da morte. Não havendo
limites, respeito pela lei e pelo "outro"; não aceitando a diversidade e a diferença
de crenças, é passar o "risco", transgredir os limites. Melhor seria que voltassem a
ler o filósofo Karl Marx, talvez assim pudessem achar um caminho que levasse à
libertação da Humanidade, acabando com os "ópios" que levam a confrontos como
os que estamos a assistir entre ocidentais e muçulmanos... Se conseguirem acabar
com os "ópios do povo", então já poderemos viver sem as causas dos cartoons...

Tudo começou no país dos porcos, i.e., no maior exportador de carne de porco
da europa, o Reino da Dinamarca, país com pouco mais de 5,3 milhões de almas,
sendo 91% delas luterana-evangélica. Foi um obscuro jornal, o Jyllands-Posten,
que nos tempos de Hitler teria cantado hossanas ao nazismo, o primeiro a ter a
ideia de publicar cartoons a ridicularizar Maomé, como quem "pichasse o Alcorão
com sangue menstrual"... Uma ideia destas, só no país da porcolandia. E assim,
no Reino da Dinamarca, o "mercado editorial", pensava engordar se conseguisse
sucesso. Mas nem o Jyllands conseguiu uma pipa de coroas, nem os cartoonistas
alcançaram a glória, antes pelo contrário, estes ficam ameaçados de morte, que
é a certeza mais rica e mais certa que tem cada um de nós. Quando não há limites,
podemos chegar à beira do abismo... acabando por ser vítimas da nossa insensatez.

Como diz António José Teixeira, no DN, "a humilhação em nome da liberdade
é uma característica trágica da nossa civilização". Pena é que essa característica
não possa ser avaliada, pensada, reflectida. Parece que o escândalo de Abu Graib,
no Iraque -- para não falar em Guantanamo -- já foi esquecido. Mal vai um país,
onde os cidadãos pensam que a liberdade dos outros, pode ser alcançada através
da humilhação dos símbolos da sua fé. Neste caso, tratava-se de retratar Maomé,
de barbas e bomba na cabeça... Que aconteceria em Portugal, se alguem fosse a
Fátima, num qualquer dia 13, e espalhasse desenhos da senhora a beijar na boca
o príncipe dos seus sonhos?... Caía o Carmo e a Trindade, desde Braga até Timor.
Liberdade de expressão, em assuntos de fé e crendice, requere muito tino e bom
senso. Não será assim?... Ou o Jyllands-Posten está a fazer o jogo dos ayatolahs?





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