2005/07/11

 
Todos nós, que escrevemos à janela da blogosfera, já experimentámos um dia
a incapacidade de alinhavar umas linhas de escrita, devido à ausência de inspiração.
Veja-se o que aconteceu com Eduardo Prado Coelho: "Que escrever? Confesso que
não sei. Pensei em falar de um escritor, pensei no cinema. Pensei na modéstia de
Wim Mertens. Pensei no livro de Jorge Molder. Recordei a Praia do Forte em
Salvador da Bahia. Pensei na Foz do Arelho. Pensei na forma discreta de conhecer
Portugal. Pensei que não faço parte de Portugal. Pensei como estão em moda as
obras sobre strip-tease. Pensei em Vasco Pulido Valente e no seu terrível confor-
mismo: para ele, pensar é dizer exactamente o contrário do que as outras pessoas
pensam. Sempre, invariavelmente. Pensei no calor, imenso. Na seca, interminável.
Pensei nas velhas casas sem elevador. Nos elevadores sem velhas casas. No que
vai ser o pesadelo das férias de Manuel Maria Carrilho". (Neste ponto, EPC explica
a causa do seu estado amorfo: os ataques terroristas em Londres). "O quotidiano
bate-nos à porta. A guerra é tremendamente assimétrica".
"PS: Interromperei estas crónicas por motivo de férias" -- assim se despediu EPC.

"Desta vez os abutres não conseguiram chegar às presas. No país da liberdade
de Imprensa tudo o que conseguiram, para alimentar a sua sanha de sangue e
pavor, foram aquelas tres ou quatro imagens de feridos já devidamente tratados,
a recuperar do choque, não havia correrias, gritos, fumo, sangue a correr a jorros,
membros amputados espalhados pelo chão. Nem uma cabeça decapitada pendente
entre carris, nem se quer um brinquedo carbonizado ou uma mão de criancinha
decepada entre ferros. Num dia com tanta notícia faltou material para abrir os
telejornais da noite". (Excerto de "Abutres a dieta", por Graça Franco).

Andam homens em desespero, que fazem lembrar as Desperate Housewives,
a chamar pelo Miguel. Eu, que não consigo entender por que chamam pelo Miguel
e não chamam pela Judite, pelo Cunha, pelo Valentim ou pelo Soba da ilha, pasmo
ao ver nas televisões este apelo, em horário nobre, e durante os telejornais. A esta
gente toda, que grita pelo Miguel, falta-lhes qualquer coisa na sua vida afectiva.
O que é não sei, mas trata-se de um caso de psiquiatria. Já chega a crise do défice.

Estes, choram por não terem ninguem, que chame por eles... Trata-se de
dois irmãos de etnia hmong, acolhidos no centro de refugiados em Phetchabun,
na Tailândia, onde as lutas inter-religiosas levam à fuga de muitas famílias.





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