2005/05/16

 
Vivemos tempos muito difíceis. Ninguem pode garantir nada a curto prazo.
O Governo prepara-se para legislar no sentido travar o endividamento das familias.
Não vai ser fácil, já que temos vivido de "cartão de crédito na mão". Ninguem pensa
em poupar, dadas as facilidades de crédito e com um juro tão baixo. Está-se a gastar
o dinheiro que ainda não ganhámos. A maioria das famílias tem mais de oito cartões,
sendo dois a tres de multibanco, cinco de crédito, e mais uma meia dúzia oferecidos
por hipermercados, bombas de gasolina, Ikea, Makros, Cofides e Moviflor, etc....
Nos últimos cinco anos, a maior parte da economia tem crescido graças ao consumo
interno, mas neste momento -- quando há sinais de "estoiros" financeiros -- convém
alertar as pessoas para os riscos que correm, se continuarem a consumir "aquilo"
que ainda não ganharam. Vamos aguardar para ver quais as medidas do Governo.

A principal causa do endividamento dos consumidores é o crédito à habitação.
Com os juros baixos, quase todas as famílias tem um empréstimo bancário a vinte,
trinta anos ou mais. Há mesmo muitas famílias com segunda casa de habitação.
Hoje as cidades estão atulhadas de carros. O nosso parque automóvel tem qualidade
semelhante à maioria dos países europeus. Os portugueses compram carros, barcos
e electrodomésticos a crédito. Fazem férias e viajam para o estrangeiro recorrendo
ao crédito. Ora, isto não pode continuar assim, eternamente. Há uma altura em que
será preciso travar o andamento do consumo a crédito, e nessa altura os juros vão
subir, tornando as prestações da casa mais caras. Coontinuando o desemprego a
aumentar, pode acontecer que, em muitos casos, a fonte de rendimento familiar
falhe, por desemprego do marido e/ou da mulher, ficando as suas vidas futuras
num cáos... E há muitos sinais de que mais uma "bolha" esteja para acontecer.

Em Inglaterra, onde nos últimos anos a compra e venda de casa foi um negócio
fulgurante, com a subida dos juros no último ano, os contratos cairam mais de
trinta por cento e o negócio entrou em recessão. Os preços podem descer a ponto
de causar um "estoiro" que, aliado à subida de juros, pode levar muita gente a ficar
com a corda na garganta. Já nos EUA, sobretudo na Califórnia -- que é conhecida
como o BUBBLEState -- os preços não têm parado de subir. Uma casa comprada
há 50 anos por 17.500 dolares é comprada agora por 900.000. Os juros, que
estiveram a 1,25 pontos, continuam a subir, e já estão nos 2,75 por cento, acima da
zona euro, devendo aproximar-se dos 4,50 no final de 2006. Nos últimos 5 anos,
os EUA perderam cerca de tres milhões de empregos e, nos próximos dez, perderá
mais 14,1 milhões devido ao outsourcing, segundo estudo da Universidade da
Califórnia-Berkley. Além disso, a deslocalização de empresas, vai continuar.

Este fim de semana correram boatos sobre o "estoiro" na Europa de um ou
mais "hedge funds" -- fundos de alto risco -- o que contribuiu para acentuar a
queda das bolsas europeias e americanas, e aumentar as preocupações. Mas sobre
isto muito haveria para contar, até porque nos States não páram os escândalos e
poderá estar para acontecer o que aconteceu em 1998 (?) com o LTCM-Long Term
Capital Management que, para não levar ao colapso os principais bancos de
investimento nele envolvidos, teve que ser ancorado pela Reserva Federal. Eram
números na ordem das centenas de biliões de dolares. A coisa está preta, e acaba
sempre como o efeito do tsunami: as ondas chegam até nós... O petróleo continua
a encher a barriga de muitos especuladores, as bolsas seguem em "yo-yo" e, este
ano, já perderam o que ganharam em Janeiro. O índice Dow-Jones perde 7 por
cento, eo NASDAQ 10 por cento. Nna Europa idem, só o CAC40 tem ganhos.
A General Motors e a Ford apresentam prejuizos acentuados e os empréstimos que
têm em obrigações, são considerados "junk bonds", lixo. Assim, com o rating que
lhe é atribuido pelas empresas de análise de risco, como é que aquela empresas
gigantes vão pagar as dívidas, com juro de 14 por cento?... E os défices de Bush?...
O horizonte está carregado de incertezas, convém não gastar o que se não tem.





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