2003/10/09

 
Ontem, a esquizofrenia

apoderou-se de todos, jornalistas, televisões, políticos e magistrados.
Felizmente não assisti a esse espectáculo de histeria colectiva, devido
a ter um jantar de amigos, marcado para fora de portas. Soube hoje,
através dos jornais que, os dirigentes do PS se lavaram em lágrimas de
alegria, por motivo de o Tribunal da Relação ter emitido ordem para o
deputado Paulo Pedroso sair em liberdade, ficando apenas em regime
prisão domiciliária. Acho que os dirigentes do PS exageraram, mais uma
vez, com o espectáculo que deram em volta do seu deputado. Os meios
de comunicação social tambem especularam com o assunto, até ao tutano,
e tudo por causa dos "shares" e das audiências. É o "mercado" em acção,
vendendo lágrimas e cenas patéticas, pior do que os programas chamados
de "novela real". Francamente, não há respeito pela privacidade alheia,
tudo tem que ser exibido na praça pública.

O PS parece que estava

orfão, ao demonstrar tamanha solidariedade pelo seu deputado. Esquecem
que nada ficou julgado, nada está absolvido, apenas a situação de prisão
preventiva passou a prisão domiciliária. Nesta trapalhada toda, tudo parece
demonstrar que há aqui um acto de vingança. Mais tarde saberemos que
motivos estiveram por detrás de tudo isto. É muito estranho tudo isto ter
acontecido tão bruscamente, numa altura em que o Governo estava em
vias de substituir Martins da Cruz, numa altura em que o PS poderá ter
sido abordado para se falar de revisão constitucional. E o magistrado,
presidente da Relação, que a semana passada deu um encontrão ao
operador de imagem da SIC com a célebre frase: "Tire isso daqui, senão
ainda parto esta merda toda", não haverá aqui vingança da sua parte?

A Justiça funcionou

dizem os entendidos. A verdade é que, até agora, no processo de pedófilia
da Casa Pia, ainda não foi feita justiça; apenas "manobras" dilatórias feitas
pelos advogados dos arguidos, que têm meios para poderem pagar a conta
final. Até agora, não se viu justiça, apenas temos visto uma série de acções
levadas a cabo no sentido de torpedear a Justiça, de desacreditar o processo
através de adiamentos sucessivos, de arrastamento e consequente cansaço
não só das testemunhas, como tambem da opinião pública, que já começa
a duvidar de todas estas manobras dilatórias dos advogados de defesa.

Mas as vitimas da pedófilia,

continuam à espera de que seja feita justiça. E, quando acontece haver um
adiamento ou mais um entrave à conclusão do processo, todos deliram com
as vitórias da defesa, mas não pensam, não se lembram que as vítimas estão
a sofrer, e que esperam pela justiça dos Tribunais para serem ressarcidos dos
maus tratos, dos abusos e das violações de que foram vítimas. Na vertigem
de esquizofrenia e irresponsabilidade que se apoderou de parte do país,
levando muita gente a festejar com euforia e loucura aquilo que é apenas um
acto processual de observação da lei, todos esqueceram as vítimas que, para
cúmulo são, na sua maioria adolescentes, desprotegidos, alguns sem laços
familiares. Que país é este, que povo é este, que tão depressa chora
a desgraça das crianças abusadas sexualmente, como logo depois vai rir e
festejar, de forma mentalmente insana, a simples libertação de um arguido
ainda não acusado nem julgado?

Ainda vai passar muita água

pelas pontes até que seja feita justiça às vítimas da pedófilia em Portugal.
Mas será feita, porque os portugueses, como membros da União Europeia,
têm condições para exigir que se faça Justiça nem que, para isso, haja que
recorrer aos Tribunais europeus.












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