2003/10/06

 
DE OEIRAS COM AMOR

O mundo da Blogosfera é fascinante, mas pode tornar-se viciante.
Tenho navegado pela Internet a partir do Blogger, que deve ser o
maior servidor de páginas na Net e é, tambem, o principal alojador
de blogs a nivel mundial.

Tenho notado um crescente interesse dos portugueses pelos blogs
a avaliar pelos que passam, a qualquer hora, no Blogger. Na busca
feita a partir daquele Servidor, ainda não consegui localizar nenhum
blog australiano ou neo-zelandês. Será pela diferença dos fusos
horários? Mas, se assim fosse, não se compreende porque navegam
na Blogosfera, durante o dia e a noite, tantos asiáticos, sobretudo
sul-coreanos e malaios de Singapura, Malásia e indonésios.

Verifico que há muito "lixo" na Blogosfera, não só pelo que é dito e
feito, mas tambem por aquilo que fazem e depois não dão continuidade
à obra realizada, ou seja: criam os blogs, e depois não escrevem mais
do que "já está, consegui!". Alguns blogueiros confessam mesmo que
não têm sobre o que escrever. A maioria são jovens, e é curioso que
não se encontra um blog editado por gente de 50 ou mais anos!...
Tenho uma jovem malaia de origem indiana a viver em Kuala Lumpur
que, ao saber a minha idade ficou admirada, porque sabe pela familia
e pelos amigos, que "as pessoas de idade têm medo dos computadores"
não são capazes de viver bem com as novas tecnologias. Esta opinião
é partilhada por mais pessoas.

A verdade é que eu não conhecia a linguagens de Internet como Java
e a HTML, mas com perseverança e interesse, tenho conseguido fazer
as coisas cada vez mais ao meu gosto. Porém sinto-me como um estranho
na Blogosfera, pois a maioria dos blogs são de gente jovem, muito jovem
alguns de 14 anos. E que tem para dizer esta juventude: escrevem sobre
música, sobre filmes, sobre jogos, sobre a escola, publicam fotos de si
dos amigos, da familia, do cão, do gato e até das galinhas e dos ratos...
E dão-nos música, muita música -- que, para mim, é demasiado "pesada".
Tambem é verdade que se encontram blogs em que se fala de pintura,
de literatura, de música clássica.

Dos Estados Unidos, para além das caricaturas de Bush e do Arny -- este
é o Arnold, o Terminator -- chegam-nos muitas ONGs sobre o ambiente,
os Direitos Humanos, a Democracia, sobre as eleições locais; aproveitam
a borla do Blogger e colocam as suas "websites" na Blogosfera. Neste
momento, encontramos numerosos blogs a trabalhar no "Recall" para
determinar quem vai ganhar na Califórnia, se os Republicanos com Arny
ou os Democratas com um dos seus candidatos. Ambos os partidos têm
mais que um candidato, em cento e tal dos que constam nas listas, desde
políticos de carreira, passando pelo "Terminator", por artistas de cinema
porno, gente que procura fama, e outros que estão na corrida sómente
para ridicularizar os demais.

Uma das maiores barreiras à inter-acção entre os Blogueiros é de facto
o idioma. Um blog em polaco ou majiar é uma janela fechada. Se for em
islandês ou sueco, tambem é complicado, mas em persa ou curdo, ainda
se torna pior. Alguns blogs árabes ou islâmicos, chegam-nos em inglês,
a maioria de estudantes, na origem ou no estrangeiro. Na Europa, dos
países mais conhecidos, tambem nos chegam surpresas, por exemplo,
da Grécia, do País Basco, e da Catalunha. Num dos últimos blogs captados
em catalão, (Un Poc de Blog) o editor, escreve em catalão e em castelhano.

O mundo está em mudança -- já dizia Camões -- e a "Aldeia Global" de que
falava o canadiano MacLuhan, é uma realidade; as pessoas têm uma grande
diversidade de meios para comunicarem: é o telefone, o fax, o e-mail, a
vídeo-conferência, a TV-interactiva, a Internet. No entanto, pelo que vejo,
as pessoas "comunicam" cada vez menos. Falo da comunicação dos afectos,
dos sentimentos, da presença humana. Cada um fala para o éter, esperando
o eco das suas palavras, que raramente chegam. Foi o que senti ao visitar
o weblog de um jóvem: "Então, ninguem me escreveu? Ninguem me disse
nada. Fuck you all!" As mensagens correm pelo espaço, mas poucas são
aquelas que são captadas -- por quem devia ouvi-las, um coração humano.





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