2003/09/08

 
A SAÚDE DOS PORTUGUESES

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) está outra vez a ser atacado, tanto por aqueles que
sempre o denegriram como por aqueles que sempre lhe deram apoio. Este Governo, ao
tomar posse, prometeu acabar com as "listas de espera" nos hospitais, mas chega-nos
agora informação de que, nos últimos tres meses, as listas têm aumentado, sendo de
150.000 o número de doentes a aguardar consulta. Quanto à redução da despesa com
a saúde, é de crer que não seja relevante, verificando-se mesmo um agravamento em
alguns hospitais. A par disto, sabemos que o Estado teve que pagar 31 milhões de euros
ao Grupo Mello, por decisão do Tribunal Arbitral, referente ao contrato de gestão do
Hospital Amadora-Sintra. A par disto, verifica-se a recusa de alguns médicos na prescrição
de genéricos. E depois, temos a greve dos médicos ao trabalho suplementar, fazendo
subir, ainda mais, o número de doentes em "lista de espera".

No meio de tudo isto, aparece agora o Presidente da República (PR), em entrevista à Lusa,
dizendo que tem "especial preocupação com a universalidade do sistema e concretamente
com o efectivo acesso de todos os cidadãos aos cuidados de saúde de que necessitam".
Diz tambem o PR que "devemos ter claro que o investimento na saúde é um investimento
produtivo", adiantando que, "o aumento da esperança de vida, a diminuição das taxas
de natalidade, em especial da infantil, constituem, um poderoso instrumento para o
crescimento da economia".
Quererá o senhor Presidente da República dizer que o SNS está em perigo, e vem chamar
a nossa atenção para o facto de o acesso ao SNS passar a ser restrito e pago por todos?
Quererá tambem dizer-nos, o senhor PR, que as pessoas não são mais do que números,
ao dizer que "o investimento na saúde é um investimento produtivo"? Esta afirmação,
deve ter "tilintado" muito bem aos ouvidos dos médicos com consultórios particulares...

Não há dúvida que à custa da [falta de] saúde dos portugueses, vive um mundo de gente
interessada em que os portugueses não tenha saúde, mas sim "doenças". Quantos mais
"doentes" houver, quanto mais prolongadas forem as suas "doenças", mais lucros terão
os médicos, as farmácias e os laboratórios... E qualquer destas entidades, tem apenas
um objectivo: facturar, ganhar dinheiro, enriquecer -- à custa do sofrimento alheio. Pensam
assim, porque a sociedade actual pensa apenas em sucesso, dinheiro, poder; quanto ao
Estado -- que tambem é constituido por gente com mente deformada -- vai mantendo as
coisas, com novos hospitais, mais médicos, mas não faz o que devia -- cuidar da saúde
pública. Hoje,a saúde pública, é uma fonte de receitas para o Estado, seja através dos
impostos cobrados à indústria farmacêutica, seja em impostos sobre o álcool e drogas.
Nunca a Humanidade teve uma indústria tão lucrativa, tão dinâmica como a indústria
quimico-farmacêutica dos nossos dias. Mas a falta de saúde pública, a nível mundial,
nunca foi tão grave [esqueçamos as pandemias]. Fora dos centros urbanos, vive gente
saudável, que vive sem doenças até aos 80/90 anos, e nunca foram ao médico! Porque
essa gente vive de forma saudável, em harmonia com a Natureza, sem angústias nem
stress, alimenta-se de produtos isentos de corantes e conservantes, não se "intoxica"
com fármacos sintéticos -- só porque tem uma dôr de cabeça.

E esta é, a questão da saúde pública que a nossa sociedade não é capaz de resolver,
assim como a indústria petrolífera não quer resolver a sua fonte de poluição, trocando
os hidrocarbonetos por energias alternativas.
O Estado queixa-se por ter que gastar centenas de milhões com a "saúde" dos seus
contribuintes, mas não dispensa os milhões de euros de imposto sobre o tabaco; diz
que os portugueses têm demasiados acidentes de viação e no trabalho, mas fomenta
o consumo de álcool e promove a instalação de dezenas de bares ao longo do rio Tejo;
diz-nos que morrem dezenas de milhar de portugueses por doenças cardio-vasculares,
mas fomenta o consumo de tabaco e álcool.
Os portugueses estão a ficar obesos, doentes do fígado, dos rins, com artrose, com
colesterol, açucar no sangue, colesterol elevado, etc. Mas o Estado, o que é que faz,
para ter um país com gente saudável? Ensina as pessoas a alimentarem-se de forma
saudável? Disponibiliza aulas de nutrição, nas escolas? Em vez de estádios de futebol
-- caríssimos -- tem construido ginásios, piscinas, pistas para "jogging" para os cidadãos
praticarem actividade física? Claro que não.
Dir-me-ão -- e aqui volto ao início deste comentário -- que o Estado não deve interferir
na vida das pessoas... Pois, mas se o Estado se queixa, por ter um país de gente sem
"saúde", é preferível que seja o Estado -- como pessoa de bem -- a cuidar da saúde
dos cidadãos, mas de forma preventiva! As pessoas são livres de se "intoxicarem" com
tabaco, álcool, doces de pastelaria, gordura animal, drogas de farmácia -- cabe ao
Estado esclarecer o cidadão, motivá-lo, educá-lo se preciso fôr.

Os grandes industriais da saúde -- sejam médicos, laboratórios ou farmácias -- tambem
têm o dever moral de não "intoxicarem" os pacientes, com uma variedade de drogas
ingeridas/injectadas durante semanas, meses, anos. Quantas vezes o "paciente" outra
coisa não precisa senão um conselho de psiquiatra, e acaba por ficar "preso" a um
cabaz de fármacos diversos -- acabando, assim, por contrair uma ou mais "doenças".

O médico de amanhã, mais do que técnico de medicina, terá que ser um psiquiatra. Não
deixa de ser médico do "corpo", deve tambem ser médico da "mente".
A evolução dos tempos, das mentalidades, assim o determinará.











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