2003/09/24

 
MÚSICA NO PARLAMENTO

A Oposição apresentou hoje, no Parlamento, para discussão e aprovação, uma
lei sobre "quotas de música portuguesa" a fim de promover esta, obrigando as
estações de Rádio a incluir nas suas grelhas de difusão, uma percentagem de
música em português. Creio bem que esta ideia não é de agora, pois no tempo
de Cavaco Silva, se a memória não me falha, houve uma tentativa de regular a
difusão de música e canções nacionais, quando o Estado ainda detinha a tutela
parcelar de algumas estações de rádio. Hoje o panorama é diferente, mantendo
o sector público apenas duas estações, a RDP1 e a RDP2. O quase monopólio
pertence agora a um grupo de "media", do qual fazem parte a ex-Comercial e
o ex-RCP, e inclui a Nostalgia, a Cidade e uma série de Rádios locais que emitem
em cadeia, permintindo-lhe, assim, alargar o expectro de audiências.

A coligação do Governo foi apanhada de surpresa, e, a fazer fé nas notícias que
vieram do Parlamento, não terá gostado que a Oposição lhe "desse música", pois
às 17,00 horas, não se encontrava ninguem do Governo no hemicíclo para ouvir
a Oposição. Tudo leva a crer que os líderes parlamentares da Coligação, querem
"outro tipo de música", pelo que se afadigavam a ultimar um projecto alternativo
para contrapôr ao da Oposição. Portanto, "quem manda, é a maioria", e, como
tal, "esperem vocês que a gente tem outra ideia, e já voltamos". Às 17,00 horas
a Oposição aguardava, no Parlamento, em "suspense", a criação de um projecto
que a Coligação diz estar a ultimar... [Que grande baile! Que procedimento mais
absurdo, que ideia mais tacanha. É assim que o nosso Parlamento funciona!...].

Esta medida reguladora da emissão de música e canções em português, talvez
tenha a ver com alguma directiva da UE, mas ainda que a isso sejamos obrigados,
não me parece que possa resultar. É uma daquelas medidas absurdas, na medida
em que hoje ninguem aceita que o Estado se intrometa no "mercado" consumidor,
onde funciona a lei da procura e da oferta, e numa altura em que a globalização
se afirma cada vez mais, e sempre com vantagens para as gigantes editoras que
dominam o mercado mundial, controlam e mantêm os preços altos, manipulam os
"tops" e criam o "mainstream" e as modas que levam os adolescentes a aderirem
ao consumo em massa. É uma questão dificil de resolver, dados os interesses em
jogo, e impossivel de remediar através de legislação. O ónus é atribuido aos
operadores de Rádio, que já lutam com dificuldades, dada a diversidade de meios
disponíveis que estão à disposição do Consumidor de música.

A preferência pela música e pelas canções em português, por parte dos ouvintes
e espectadores, só pode ser alcançada fazendo a sua divulgação nas escolas,
a partir do ensino básico. Tudo o mais virá por acréscimo, com bons autores, bons
intérpretes, bons espectáculos ao vivo. Outra coisa que conta, é o orgulho e o
sentimento de ser português, de gostar e de conhecer a nossa cultura, as nossas
tradições. Nos anos 80 tivemos uma vaga enorme de criadores e intérpretes,
que iam desde os Jáfumega, aos GNR, UHF, Rui Veloso, etc., etc. Nesses tempos,
o ensino de música nas escolas era sentido, era estimulado, sendo ponto de
partida para a criação de muitas e diversificadas bandas de rock, donde sairam
muitos instérpretes e bons cantores que, acabaram por fazer carreira a solo.

A música, para mim, é a linguagem suprema, que todo o mundo conhece, mesmo
que interpretada num idioma estranho. A música faz bem a todos os seres vivos,
contribui para unir as pessoas, torna a vida mais alegre, ajuda-nos a suportar a
dor e o sofrimento. A música e o canto, não deviam servir o "mercado", deviam
ser gratuitos, sem "tops" nem "stars". Apenas uma festa, onde todos cantassem,
como soubessem e pudessem, sem "cachets" nem "discos de ouro" milionários.
Infelizmente, neste mundo, há oportunistas sempre farejando os "nichos" que
podem ser explorados pelo "mercado". E, foi assim, que nos roubaram a alegria
de cantar, livremente. Eles reservaram essa "alegria" para os recintos fechados,
para poderem facturar, explorando uns -- os espectadores -- e imolando outros
-- os Elvis -- que acabam exaustos e dopados, às mãos dos seus "managers".








<< Página inicial

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Subscrever Mensagens [Atom]