2003/09/02

 
A CONDIÇÃO HUMANA

Não vou escrever sobre André Malraux, essa grande figura das letras e da cultura francesa,
nem sobre a sua obra "A Condição Humana", -- que lhe valeu o Prémio Goncourt 1933 --
nem tão pouco sobre o seu espírito combativo pela causa da liberdade dos povos. Nada
disso, apenas utilizo o nome do seu livro premiado, por ser adequado ao sentir que me
vai na alma, a propósito das crianças da Casa Pia de Lisboa, vítimas de pedófilos.

Com a manobra dilatória ontem tomada pelos advogados dos arguidos no processo, a
maior parte das testemunhas, deve ter ficado confundida e assustada, diria mesmo que,
a maioria, terá ficado descrente, mais uma vez, de que algum dia ser-lhes-á feita Justiça.
Trata-se de crianças, violadas, indefesas e humilhadas, cuja última esperança de justiça
é agora o Estado, através do Ministério Público. Com a manobra feita ontem, certamente
que terão ficado com muitas dúvidas ácerca de todo este imbróglio.

Mas gente haverá que, a partir de ontem, será tentada, agora, a denegrir o juiz Rui
Teixeira, o psiquiatra Pedro Strecht, Catalina Pestana, e, tambem, a credibilidade das
testemunhas. Veja-se as tentativas de Ines Serra Lopes, do "Independente", que há uns
meses atrás tentou arranjar um sósia de Carlos Cruz e, agora, conseguiu obter cópia dos
arquivos roubados da provedoria da Casa Pia de Lisboa.
O fadista João Braga, à saida da visita que fez, há uns meses atrás, a Carlos Cruz, teve
o desplante de afirmar à comunicação social que "o Carlos não é um pedófilo; até eu posso
ser acusado de ser visto com "prostitutos", mas isso não se pode dizer que seja pedofilia.
Eles andam aí, na rua, à noite..." - desabafou ele, convencido que desviava a atenção de
todos para o que se passa na noite lisboeta.

É de gente com este carácter, gente sem sentimentos nem princípios, que é de esperar o
pior. Para esta gente, o que interessa é a satisfação das suas aberrações sexuais, seja
com crianças adolescentes, seja com adultos a quem eles apelidam de "prostitutos". Para
eles o que conta é o prazer de satisfazer os seus traumas de infância, quando o que se
lhes recomenda, -- porque tambem foram vítimas -- é um tratamento psiquiátrico, por
forma a "vomitarem" esses traumas.
Quem é que "alimenta" o mercado dos "prostitutos"? Quem é que contribui, para que os
adolescentes vão parar a essa forma de vida degradante? O que leva os adolescentes a
serem "empurrados" para a prostituição masculina, para a droga, para uma forma de vida
degradante, da qual raramente conseguem fugir?

As entidades oficiais, têm estatísticas, tem os meios para o saber. Certamente que, entre
os "prostitutos" de que falava João Braga, alguns haverá que foram vítimas de pedófilos,
comos as crianças da Casa Pia. Quando uma criança não tem laços familiares, não tem
quem a proteja, quem lhe dê educação, uma carreira profissional e não aprenda a conhecer
referências de ordem social e cultural -- certamente que, pela sua condição de fragilidade e
emotividade humanas, poder-se-á revoltar e tornar-se num deliquente, num aditivo, num
marginal, já que a sociedade, para ele, foi repressiva, violenta, egoísta.

É por estas razões que não podemos esquecer que, neste processo de pedófilia, está em
causa o bom nome da Justiça, e o futuro dos mais jovens, aqueles de quem o País espera
que sejam capazes, voluntariosos, felizes e vivam num mundo melhor. O futuro é deles, mas
nós temos o dever de os resgatar de todos os processos infames.







<< Página inicial

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Subscrever Mensagens [Atom]