2003/09/11

 
CHOVE EM SANTIAGO

No dia 11 de Setembro de 2001 estava eu nas instalações logísticas do Aeroporto de Lisboa, num seminário de formação quando, pelas 14,30 horas, uma colega atende o telemóvel e é informada de que um avião se despenhara contra as "Twin Towers", em Nova Iorque. Eu não quis acreditar, devia ser uma daquelas cenas de Hollywood, pensei. Logo a seguir, numa pausa para café, fui até à sala dos Operadores de Combustíveis, procurar saber do que se tratava, pois ali havia rádio e televisão. Ao entrar, encarei com aquelas imagens perturbadoras. Era o tempo de implosão da primeira Torre, esfarelando-se em milhões de pedaços e poeira. - Meu Deus! Que se está a passar? Isto é mesmo real... Que aconteceu? - perguntava a mim mesmo, embasbacado. Após alguns segundos, pensei: Hoje, é dia 11 de Setembro!.... Será pura vingança, do que aconteceu no Chile de Allende? Claro que, 28 anos depois, não tinha a ver com isso. Apenas as datas coincidiam...

Hoje fala-se muito em terrorismo. Deixou de falar-se no direito à indignação, no direito de defesa nacional, no direito à dignidade, no direito à revolta contra os opressores, contra aqueles que nos querem subjugar, contra os que invadem as nossas casas, matam as nossas famílias, os nossos amigos, invadem as nossas terras, não respeitam as nossas crenças, a nossa cultura, os nossos costumes. Não importa se falamos de cristãos, muçulmanos, indús ou árabes; não importa a cor nem a religião, todos têm o direito de viver em segurança, em dignidade, em paz. Infelizmente, os poderosos que hoje mandam no mundo, estão cegos, não houvem os outros, não admitem ser contrariados, julgam que têm o poder e a verdade do seu lado. Estão cegos e não querem ver que a sua maneira de gerir o mundo, está errada, porque desrespeitam os outros, humilham os demais, pecam.

O 11 de Setembro americano, é um sinal da raiva, do ódio e sede de vingança da parte de quem se sente ofendido e humilhado na sua dignidade -- o mundo árabe e muçulmano. O que está a passar-se na Palestina, continua a ser o rastilho de toda a violência, de toda a ira contra o poderio americano -- que deixa o aliado judeu, usar o seu poderoso exército, a aviação e os mísseis, para atacar e arrasar um povo que, para se defender, não tem uma coisa nem outra, apenas as pedras do ódio.

Segundo uma sondagem Gallup, realizada em 9 países islâmicos, 61 por cento acham que os EUA e o seu Presidente são uns "Sem escrúpulos, agressivos, arrogantes, fáceis de provocar e tendenciosos". "Washington adoptou a ocupação israelita [da Palestina], como parte da sua própria campanha anti-terrorismo", disse Mouin Rabbani do International Crises Group, na Jordânia. "Os americanos raptaram os nossos sonhos de reforma e democracia", afirmou, irritado, o cineasta Samir Zikra; isto porque Bush, ao apontar o alvo ao Irão, acabou por fortalecer o regime dos ayatholas, acabando com as tímidas reformas. "Caso se repetisse um atentado, da magnitude do 11 de Setembro, a alegria furtiva do mundo árabe seria provavelmente maior que nunca", disse o egípcio Karim El-Gqwhary, citado pelo Público de hoje.

É uma tragédia para todos nós, que a maior potência do mundo, esteja a ser dirigida por gente que não consegue ver a realidade em que vive. Só quando os EUA trocarem a política do "pau e da cenoura", a que apelidam de "hard power" e passarem a praticar uma política de "soft power", usando a cooperação em vez da arrogância, é que poderemos ter esperanças de viver num mundo mais pacífico -- como referiu Joseph N Nye, deão da Kennedy School of Government da Universidade de Harvard.






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