2003/08/16

 
LITERATURA EM TEMPO DE FÉRIAS

É costume perguntar às pessoas amigas, quando vão de férias, que autores ou
obras literárias levam para ler, já que, ao longo do ano, por afazeres profissionais,
pouco tempo resta para a boa literatura.
Eu nunca dediquei muito do meu tempo de férias a ler um bom romance, novela,
ensaio, crítica ou poesia, pois tenho para mim, que um trabalhador assalariado, ao
fim de um ano de trabalho, precisa mesmo é de umas férias para "regenerar" (física
e espiritualmente) e que, essa necessidade, só pode ser alcançada, "desligando" a
mente de todos os exercícios mentais, contactando com a mãe Matureza, comtem-
plando o rio, o mar, a serra, os vales, as aves, os bichos -- todos os seres vivos --
enfim, ter consciência de tudo aquilo que ao longo do ano nos passou despercebido.
Mas, apesar de tudo, anos houve que tambem consegui criar condições propícias á
leitura de boas obras literárias. Tudo depende do local onde fazemos férias.

Vem isto a propósito de Clara Ferreira Alves, directora da casa Fernando Pessoa, que
à pergunta da praxe respondeu: "Acabei de ler o "Plateforme" de Michel Houellebecq
[Edition J'ai lu]. Adorei. Li-o todo de seguida. Já tinha lido as "Partículas Elementares"
e guardei este para as férias. Pela primeira vez em muitos anos descobri um roman-
cista francês. Houellebecq pertence a uma família que é de um péssimismo inteligente,
da qual fazem parte Philip Roth ou J.M. Coetzee. "The Dying Animal", de Roth,"Disgrace"
de Coetzee e "Plateforme" são os romances [recentes] mais interessantes. Estou a
ler ainda "Diego Garcia", de Simon Winchester, num número antigo da "Granta", doiis
livros sobre a Al-Qaeda, partes de "The War Against Clichés: Essays and Reviews",
de Martin Amis... vou saltando, é uma overdose de livros".

Eu esperava mais de Clara Ferreira Alves (CFA), não uma "overdose de livros", mas
pelo menos a alusão a um autor português, tanto mais que ela tem a seu cargo a
direcção da "Casa Fernando Pessoa". Mas não, CFA apenas mostra apetência por
AA e temas estrangeiros, que a mim, nada dizem, e sobre a Al-Qaeda, então nem
pensar -- isso é problema do tio Bush. Então, porque razão, Calra Ferreira Alves?
Será por snobismo, serviço de recensão, falta de edições de AA portugueses, ou
porque "o que é nacional não é bom"? Não estará CFA a esquecer a literatura
portuguesa? E não será isso uma traição a Fernando Pessoa?

Ao ouvir alguns pseudo-intelectuais cá do nosso burgo, não posso deixar de
agradecer ao brilhante e inteligente Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, o quanto tem
tem feito pela divulgação da actividade editorial de AA portugueses, emitindo
sempre, a sua opinião -- ainda que laudatória -- das respectivas edições, e sem
que alguma vez se tenha lamentado de sentir, que isso, para ele, seria uma
espécie de "overdose de livros".

Os livros, Clara Ferreira Alves, nunca são demais.






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