2003/07/11

 
Afinal Manuela Ferreira Leite recuou, cedeu, falhou no objectivo do PEC com os
taxistas, que andam de Mercedes á nossa custa. Apesar de o Governo ter condições
políticas para o fazer (até a opinião pública), o Governo não consegue impôr leis nem
regras para cobrar os impostos áqueles que fogem ao fisco. É um regabofe.

Hoje quero comentar um assunto mais elevado, mais gratificante. Tem a ver com João
Bénard da Costa, dinossauro da nossa praça no campo das "artes e letras", e refiro-me
á sua crónica semanal no Público, "A Casa Encantada".

JBC escreve com facilidade, sobre as mais diversas coisas do dia-a-dia, mas sempre com
muito bom gosto, com objectividade, humor e erudição q.b.; isto dá um sabor especial ás
suas crónicas, e eu só lamento que, no meio de tanta informação, tanta imagem, tanto
palavreado, não seja possivel haver mais tempo para ler coisas tão interessantes e com
substância, como são os escritos de José Bénard da Costa.

Desta vez, entrou no combio em Sintra para viajar até Lisboa. São 40 minutos, durante
os quais conseguiu ler o La Stampa, La Reppublica e o Der Spiegel. Ficou a saber o que
dissera "il condottiere" Berlusconi no PE e toda a polémica que veio depois. Enquanto
imaginava viajar pela Toscânia e pela Emilia Romana, cujas paisagens lhe enchem a alma
de beleza, JBC ia inferindo como é dificil ser europeu num contexto onde as memórias de
cada um ainda vivem com as imagens do passado: de um lado a "suástica" e de outro a
"camorra e o padrinho" -- este foi o resultado da intervenção de Berlusconi no PE.

Em viagem, JBC surpreende-se com a paisagem de "vinhas e ciprestes, sob a mais doce
luz do mundo" da sua Toscânia. E logo volta ás páginas do La Stampa, ficando surpreso
pelo governo de Madrid autorizar Beckham -- o "spice boy" -- a aterrar, não em Barajas
mas sim em Torrejon de Ardoz, um aeroporto militar. Por segurança, pois o caso não era
para menos, considerando que o "spice boy" é tratado "come una rock star".

JBC viajava na linha de Sintra, mas estava ausente, pensando na arte de Caravaggio ou
sabe se lá, na "Divina Comédia" de Dante Alighieri, possivelmente no capítulo sobre o
Inferno, pois logo fica sabendo por La Reppublica que, no outro lado do Atlântico, um
"cyborg" que já foi "Mr. Universo" e "Terminater 2" se prepara agora para conquistar
a presidência do estado da Califórnia, em tempos gerido por Reagan, tambem ele
actor mas no estilo "cow-boyadas".

Pouco depois, a viagem chega ao fim, e JBC -- que se esqueceu de Eça e Ramalho em
"O Mistério da Estrada de Sintra" -- ainda consegue encaixar no texto Saramago e
Augustina, concluindo assim que, embora o jornal e o comboio fossem outros, a Europa
começa aqui, vai até á Toscânia, passa por Frankfurt e vai mais além, até onde a vontade
de todos nós o permitir.

























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