2005/04/05

 
Devo confessar que, como cristão -- embora arredado das sacristias -- choca-me
todo este espectáculo mediático com a morte do chefe da Igreja e do Estado
do Vaticano. Aprendi na História que, antes de Cristo, todas as crenças e adorações
a um ídolo falharam, como veículo de fé, porque elas não passavam disso mesmo: a
adoração a um ídolo de barro... Depois (antes) veio o iluminado Buda, e muito mais
tarde apareceu Alá. Mas como religião de fé, apenas conta a palavra de Cristo e a de
Alá. O sábio e iluminado Buda, que nasceu príncipe e renunciou aos privilégios da
corte para ir em busca da verdade, esse não invocou a palavra de nenhum deus para
deixar um conjunto de nobres verdades. Mas todos os mestres que vieram depois,
disseram e pregarem as verdades de Buda. O iluminado morreu em paz absoluta.

Ao ver o circo encenado com a morte do Papa para consumo das televisões
em rede global; ao ver os fariseus que acorrem a Roma; ao ver tanta gente a orar,
em igrejas e em Roma, sinto que grande parte deste espectáculo serve para exibir o
poder do Vaticano. Mas tambem a vaidade, a hipocrisia e o cinismo de muita gente
que vê no Papa um "santo" milagreiro, quando em boa verdade ele não passa de
um cardeal de carne e osso, eleito pelos homens -- sabe-se lá com que lóbies -- e
que peca e erra por ser humano e, portanto, poder agir, nalguns casos, com dureza,
contrariando "meio-mundo" para agradar a outro meio. Ninguem está isento de
"pecado". Eleger santos por decreto, proclamar a santidade humana, é criar ídolos,
é gerar mitos. Assim, está-se a esquecer Aquele a quem é devido louvor e respeito.

Se falasse nas enormidades adjectivas proferidas pelos "farizeus" neste cenário
de circo televisivo, muitas "pérolas" poderia registar, para confirmar a loucura
deste réquiem pelo Papa. Enquanto o Papa agonizava, ouvi dizer que "ele estava às
portas do céu, à espera que S. Pedro chegasse"... "S. Pedro ainda não autorizou a
abertura das portas ao santo padre". O Papa "é um pastor de um grande rebanho".
"Sampaio faz bem em ir a Roma, porque o Papa era muito amigo de Portugal".
(Seria mais amigo de uns do que outros?). O espectáculo vai continuar, para
gáudio de muita gente. (Vem-me à memória o circo romano, com escravos lançados
às feras, para divertir o povo). Até o "comissário" Luis Delgado está maravilhado
com a encenação que está a ser feita para o povo: "O verdadeiro impacto do
primeiro Papa global vai ver-se na sexta-feira, na Basílica de S. Pedro, em Roma".
Delgado espera ver Putin, Bush, Berlusconi... E Sócrates, será que vai aparecer?
E a China, será que vai mandar alguem, mas quem será? E a Austrália?...
Simplesmente macabro, sórdido, ateístico.





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