2006/01/10

 
A campanha eleitoral está a descambar para o lado negro da discussão azeda,
por motivos de "heranças patrimoniais". Julgava eu que as heranças, eram legados
materiais deixados a outrem, geralmente familiares; quanto aos legados históricos
e culturais, sempre julguei que eram pertença de todos os cidadãos, deles podendo
usufruir, desde que a preservação do património legado não fosse posta em causa.
Acontece que, durante esta campanha eleitoral, o problema da "herança cultural"
tem sido confundida com a existência de "templos sagrados", cuja guarda estaria
a cargo de um único guardião... Primeiro, assistimos à "desacrilização" da marcha
"Grândola, Vila Morena", cantada num comício de Cavaco Silva, efectuado naquela
vila alentejana... A partir daí, logo se manifestaram os "herdeiros" e guardiães
dizendo que aquilo tinha sido uma blasfémia... uma ousadia irresponsável, cantar
aquela canção em Grândola, por gente do PSD, PS, CDS e por certo do PCP. Vale
perguntar: afinal, os alentejanos não podem cantar as canções de que gostam?...

Faustoso e belo... Sala dos Espelhos do Palácio de Versailles,
após obras de restauro. O aspecto velho e gasto, desapareceu.


Neste fim de semana, tivemos mais do mesmo: o candidato Manuel Alegre,
visitou Peniche, e prestou homenagem a quantos lutaram pela Liberdade no local
apropriado, o Forte de Peniche, património histórico nacional... "Aqui d'el Rei",
gritaram logo os guardiães do "templo sagrado", como se os bárbaros estivessem
a invadir o seu território... O Forte de Peniche, onde estiveram presos dirigentes
do PCP (e não só), é património de todos os portugueses, e não só do PCP. Trinta
anos após a Revolução, ainda há grupos que se julgam donos exclusivos da História.
Qualquer dia, um grupo de mulheres pró-IVG, resolve ir ao Alentejo prestar uma
homenagem a Catarina Eufémia, e são escorraçadas, só porque o PCP se arroga
o único herdeiro da defunta... Todas as mulheres têm direito a invocar Catarina.
Se é verdade que Manuel Alegre, ao fazer a sua visita ao Forte de Peniche em
plena campanha eleitoral, tinha em vista realçar o papel dos resistentes que ali
estiveram presos, tambem é verdade que fez populismo, o que é inaceitável. Mas
não podemos é continuar a aceitar que haja neste país, "templos e capelinhas"
deste ou daquele partido ou grupo de oportunistas. Portugal é dos portugueses.

Feira de gado no Paquistão... Enquanto o dono sonha em ganhar
umas rupias, os camelos parecem apostar numa vida melhor.





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