2005/07/03

 
O pessoal ligado à indústria da música, veio, uma vez mais, cantar para ajudar
a combater a fome em África. A ideia pode ser bem intencionada, pelo lado dos
artistas, mas os resultados práticos não irão alem de boas intenções. Atrás deste
espectáculo global, vêm as editoras, os empresários, os managers, os críticos e os
media ligados à música, para aproveitarem a publicidade e fazerem mais negócios.
Este espectáculo não passa de uma "feira das vaidades", onde aparecem uns
humanos justos, mas do qual tiram proveito todos os que estão ligados à música.
A fome em África não se resolve com ajudas nem com gestos de caridade cristã;
há milhares de ONGs no terreno, dedicadas a alimentarem os refugiados e outros
pobres de tudo. E está no terreno o ACNUR, que tem alimentos e a logística
adequada para a sua distribuição... No entanto a fome, a doença e a falta de um
mínimo de condições para viver, continuam a flagelar os povos de África.

Não acho que a fome deva ser combatida a cantar... Acho isso uma violência,
uma falta de sensibilidade para com os que sofrem; é um gesto que menospreza
todos os que carecem de alimentos, e está envolto em evidentes contradições
com quem sofre por nada ter... Enquanto uns morrem de fome e de doença,
outros cantam e dançam -- ainda que se diga que é para ajudar aos desvalidos.
A fome combate-se ajudando as pessoas a viver e a aprender a lutar pela sua
sobrevivência. E que lhes importa saber, que no mundo estão milhões de pessoas
a cantar para arranjar dinheiro, se a condição humana, em estado degenerativo,
por causa da fome, não consegue "raciocinar", não consegue compreender por
que é que meio mundo "adoece" por fartura de mais, enquanto outro meio mundo
não tem uma unha para roer? Um esfomeado não quer ouvir cantar; quer comer.
Larguem os palcos, vão para o terreno, em África, ajudar quem precisa.

Esta tarde, entre as 12,00 e as 13,30 horas, fez mais a CNN pela causa dos
esfomeados em África, do que as "cantorias" promovidas a nivel global. (Exibindo
e promovendo os artistas-produtores de cantigas, para mais tarde facturarem).
A CNN trouxe a nossas casas, à hora de almoço, a grande tragédia dos esfaimados
em África. Um trabalho conduzido por Christian Amanpour, com imagens vivas,
a entrarem na comodidade das nossa casas, onde se viam crianças envoltas em
"enxames" de moscas, a chorarem, famintas, na Etiópia e no Burundi, sem casa,
sem água para se lavarem, sem nada de comer. (Mas no mundo há quem engorde
por excesso de comida, quem coma por comer). A fome em África é um espelho
do egoísmo dos países ricos, que ali exploram os minérios, petróleo e diamantes;
é uma situação política minada pela corrupção, que devia ser tratada ao nível da
ONU, por intermédio dos países ricos, por forma a efectuarem uma "governação
vigiada" nos países em desenvolvimento. Nos países mais pobres, poderiam ter
representantes nos governos locais, a fim de promoverem o desenvolvimento.
África é um problema que deve inquietar a consciência de todos nós, e sobretudo
os antigos países que colonizaram o continente e não promoveram as élites locais.





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